quarta-feira, 9 de maio de 2007

Partes do Formulário - JUSTIFICATIVA

A espécie humana é essencialmente sociável. Por esta característica os seres humanos sempre buscaram se relacionar e criar estruturas sociais complexas. Cada indivíduo ao desempenhar papéis diversos (estudante, trabalhador, jogador de basquete, sambista, fumante e tantos outros) consiste em um nó de redes específicas que comporá outras redes, formando redes sempre mais amplas. Nas palavras de Castells (2005, p. 566) uma “(...) rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é ponto no qual uma curva se entrecorta.” Desta forma cada um desses nós se interconecta, seja em pequenos grupos, como o núcleo familiar, seja em grupos muito mais complexos como comunidades e sociedades.

Essa ampla rede aumenta a cada dia conectando humanos e máquinas e dando forma às redes sociotécnicas, que de acordo com Medeiros (2005) são redes sociais em que a tecnologia oferece a estrutura de sustentação das relações que irão se estabelecer.

Desse modo, considera-se que a internet pode ser vista como uma rede sociotécnica ao viabilizar e potencializar a interação e a comunicação entre as pessoas, numa estrutura auto-reguladora reticulada. As tecnologias que ela envolve, as conexões e os nós técnicos e sociais por ela formados, lhe servem de sustentação e, ao mesmo tempo, são sua razão de existir (MEDEIROS, 2005, p. 49).

Latour, por sua vez, nos dá a dimensão social da construção do conhecimento científico. Ele propõe que este conhecimento seja visto como um produto ou efeito de processos e práticas sociotécnicas no âmbito de uma rede de materiais heterogêneos, que inclui máquinas, indivíduos, instituições e organizações. Essa rede produz fatos e máquinas com movimentos estratégicos de decisões e táticas de negociações entre seus integrantes. Latour denominou-a como rede sociotécnica (Latour, 2000), conceito que adotamos neste projeto como tema de pesquisa, juntamente com a noção de negociação.

Processos de interação envolvem interesses, mobilizações, conflitos, construção de alianças, e produzem pontos de convergência e de contato (interação) e também de exclusão (negação). Tudo isto desemboca em processos constantes, consciente ou não, de soluções negociadas de conflitos. Tais negociações são entendidas por nós como (...) fenômenos de decisão complexos, que geralmente apresentam características como existência de aspectos subjetivos, de percepções e emoções, relações com outras negociações passadas ou futuras, necessidade de comunicação e processo de aprendizado, entre outras (BALVERDE, 2006, p12).

Destarte, a negociação se faz presente nos mais diversos âmbitos das redes de contato, permeando ações e tomadas de decisões nas mais variadas instâncias. Por isso consideramos que rede sociotécnica e negociação são indissociáveis, como bem nos diz Higino: "A negociação entra pela porta de nossas casas, intervém em nossa comunicação familiar, aperfeiçoa nossa relação com as tecnologias e os objetos modernos, condiciona nossa convivência com a sociedade e coloca-nos numa enorme rede de conexões, no mundo globalizado, mudando, assim, certas fronteiras do conhecimento. Para bem negociar nossa vida e nossas relações, no mundo pós-moderno, é preciso conhecer, e é preciso, portanto popularizar o conhecimento científico e, sobretudo, o conhecimento técnico e tecnológico. Para bem popularizar, é preciso colocar frente a frente os diversos atores envolvidos nessa rede que tece sua teia e prende seus nós em meio à produção científica e à divulgação cultural – uma via de mão dupla, uma vez que a cultura é uma construção coletiva (VENTURA, 2001, apud HIGINO, 2002, p 114)."

Especificamente sobre essa pesquisa, consideramos que a internet pode viabilizar e sustentar a interação e a comunicação entre os alunos do MET no CEFET-MG. Isto nos levou à decisão de criar dois artefatos integrados, que são o website e a rádio virtual ou podcast, por serem tecnologias que potencialmente podem propiciar conexões e nós tecno–sociais, e, consequentemente, servir para dar sustentação a uma rede sociotécnica.

A nossa percepção da dificuldade dos alunos do Mestrado em Educação Tecnológica no CEFET-MG em estabelecer canais de interação e de comunicação eficazes entre si, e de encontrar soluções negociadas para os problemas e conflitos cotidianos do curso, nos levou a propor a formação da rede sociotécnica suportada pelo website e podcast.

Nossa hipótese é que a concretização de redes de conhecimento virtuais acerca do cotidiano da vida acadêmica facilite a troca de informação com maior eficácia entre os indivíduos, neste caso, os alunos do Mestrado em Educação Tecnológica no CEFET-MG.

Pretendemos que os artefatos em projeto ofereçam uma ampla plataforma de trabalho, com ferramentas que atendam ao objetivo proposto, como o estabelecimento de um ágil fórum de discussão virtual com cadastro de endereços eletrônicos de todos, uma agenda coletiva de compromissos e atividades comuns que poderá ser alimentada e realimentada por qualquer integrante da rede, formação de um repositório de textos de qualquer natureza cuja base de dados acessível, ferramentas de busca eficientes, serviços de tradução automática de textos e do conteúdo de outros sites.

A proposta da criação deste ambiente virtual independente das características e funções do site dessa instituição educacional facilitará a interação virtual entre alunos a partir de tecnologias e recursos disponíveis on line, e servirá como base para o desenvolvimento de uma rede sociotécnica de aprendizagem e cooperação.

Bibliografia
BALVERDE, Nelson R. M. Desenvolvimento de uma ferramenta de apoio ao processo de negociação integrativa. 2006. 159f. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Disponível em acessado em 09/04/2007.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: A era da informação: economia, sociedade e cultura, vol.1. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
HIGINO, Anderson F. F. A pedagogia de projetos na educação em ciência e tecnologia à luz da ciência da complexidade e do conceito de negociação; estudo de caso no ensino de física dos cursos de engenharia industrial do CEFET-MG. 2002. 187f. Dissertação (mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais; Programa de Mestrado em Tecnologia, área de concentração: Educação Tecnológica.
MEDEIROS, Zulmira. A apropriação da cultura tecnológica na formação das redes sociotécnicas: um estudo sobre o portal da rede municipal de ensino de São Paulo. 2005. 158f. Dissertação (mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais; Programa de mestrado em tecnologia, área de concentração: Educação Tecnológica.LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

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